O
movimento estudantil de 21 de maio, surgiu quando cerca de 400
estudantes tomaram o prédio da Reitoria ao som do grito "Resistir,
Ocupar!", após Assembléia Geral dos Estudantes da FURG que
deflagrou a Greve Estudantil e o apoio à Greve dos Professores. Logo
após a entrada, ocorreram divergências sobre os rumos do movimento,
visto que ele surgiu espontaneamente, na forma do fenômeno efeito
multidão, e não foi emcabeçado por líderes políticos. Em seu
âmago o que motivou cada um a estar ali era a luta por melhorias na
FURG e no ensino superior e pela humanização da educação. Esse
foi um momento único para a história da FURG e pioneiro no contexto
de greves nas IFEs iniciado no país.
Após
dois dias, quem visitava a ocupação encontrava na entrada um cartaz
escrito: "Nem esquerda, nem direita, auto-gestão". Assim o
movimento se organizou e se fortaleceu sem lideranças, baseado na
auto-gestão. Dividiu-se os estudantes em comissões - cartazes
colados na parede com o nome das comissões permitiam que aqueles que
se dispusessem a cumprir aquelas tarefas voluntariamente se
responsabilizassem colocando seu nome no cartaz. As reuniões
organizaram-se de forma que quem se dispusesse a cumprir uma função
a assumia, sem uma comissão fixa. Todos tinham oportunidade de
falar nas reuniões. As reivindicações não foram escritas por uma
comissão apenas, mas todo estudante pode escrever a sua em um imenso
cartaz que ficou disponível no local.
Essa
forma de organização fez com que o Movimento evoluísse
rapidamente. Em quatro dias já tinhamos uma lista de quatro páginas
de reivindicações estudantis, maior e mais profunda que a lista dos
professores. Assim, o
movimento estudantil ressurge nas ruas, tendo coragem de gritar pelos
nossos direitos e reivindicar uma mudança social, cultural e
ambiental. Ele se contrapõe aos movimentos estudantis burocratas que
lideram instituições representativas estudantis, pois estes enviam
ofícios com pedidos e aguardam até eles serem cumpridos. Nossos
desejos e sonhos não cabem mais em ofícios, requerimentos,
carimbos, urnas e gavetas.
Estamos
criando na FURG um movimento estudantil autônomo, apartidário e sem
bandeiras. Um movimento estudantil que fala com os burocratas
administradores de cabeça erguida chamando-os para uma conversa cara
à cara, pois não aceitamos mais a manipulaçao através de
representantes. Cada um de nós deve decidir se concorda ou não com
os rumos que a universidade está tomando. Criamos um movimento
estudantil que tem comprometimento tal que abandonou toda sua vida,
sua casa, e dedicou-se dia e noite para construir uma educação
melhor.
No
4º dia de ocupação, já tendo sido definido que decidiríamos as
20h se continuaríamos ocupando a reitoria ou não, a Pró-reitora
entrou no local e influenciando na autonomia estudantil, induziu a
pauta da reunião e incitou a formação da mesa mediadora.
Contrariando a proposta de auto-gestão e autonomia, cerca de 20
estudantes tomaram a decisão mais importante da história que
estamos
construindo. Na reunião às 20h, fomos surpreendidos com a notícia
de que já havíamos dado “nossa” palavra à pró-reitora de que
desocuparíamos a Reitoria naquele dia, não aceitando sequer um
prazo para planejar a mudança de forma consensual. Influenciar na
nossa autonomia não é somente tomar decisões sem voto, mas mudar a
pauta de uma reunião importantíssima de uma hora para a outra. As
pautas devem estar no site, e não podem ser mudadas por influência
de ninguém.
Qual
o interesse da Reitoria para que desocupemos o prédio se estávamos
convivendo pacificamente e sem causar qualquer dano? Este ano é ano
de eleição para reitor e prefeito da cidade. A permanência da
ocupação na reitoria prejudicaria a imagem da atual gestão da
Universidade, que provavelmente tem um candidato que dará
continuidade a essa gestão. E consequentemente também prejudicaria
a imagem do Partido dos Trabalhadores no município.
Nós
surgimos como uma oposição ideológica na FURG. Ocupamos a
Reitoria! "Reitor", do latim, rector, aquele que dirige,
aquele que governa. Reitoria, local do Reitor. Ocupar a Reitoria deu
um novo significado à um local "asséptico", "sisudo",
burocrático, à casa do gestor de terno e gravata, cujos sonhos
ainda cabem nas urnas. "Ocupação": ação de movimentos
sociais que buscam dar uma finalidade social à uma propriedade. Na
placa de entrada da Reitoria agora diz "A reitoria é de TOD@S".
Ocupamos uma instituição pública sustentada pelo orçamento
público, que advém de impostos arrecadados (ou seria arrancados a
força) de todos cidadãos, estejam ou não na Universidade. Ao dizer
que a Reitoria é de todos, nós a demos uma finalidade social,
tomando o local "daquele que governa de terno de gravata" e
tentamos construir uma educação melhor, uma educação
comprometida com TOD@S.
A
nossa primeira vitória contra o movimento estudantil burocrata foi a
reunião na qual o Reitor desceu as escadas do palácio e falou de
igual pra igual com os súditos, embora as instituições
representativas da burocracia tenham querido subir, sentar-se em
torno da cadeira do rei, e reivindicar de cabeça baixa. Nossa
primeira derrota foi quando desceram ordens da Reitoria determinando
nossa pauta e pressionando nossa saída imediata. O movimento abdicou
de sua autonomia no momento em que desocupou o espaço de poder, o
único local que não nos pertencia na Universidade, e montou
barracas na APROFURG. Isso fez com que o movimento se limitasse à
Greve dos Professores, esquecendo que os estudantes são uma
categoria própria.
Ao
desocupar ao prédio por causa da palavra de um estudante que não
teve coragem de resistir à pressão da reitoria, esquecemos que não
que não estávamos ali nos sacrificando somente por um novo
calendário, mas sim por reivindicações nacionais. Estávamos ali
por 10% do PIB pra educação, para que o Governo Federal pare de
investir 47,19%
do orçamento na Dívida Pública (27 vezes mais do que na educação).
Estávamos
ali pra mostrar que a Reitoria não é do Reitor, mas é nossa, é
dos nossos pais que nunca entraram na Universidade, é dos nossos
filhos que ainda nem nasceram, é de toda sociedade que se mata
trabalhando pra sustentar a Universidade!
Continuamos
na Reitoria porque queríamos mostrar que somos um movimento
estudantil que
exige
que suas reivindicações sejam cumpridas e coloca mãos à obra para
alcançá-las. Queríamos mostrar que somos o exemplo de autonomia e
auto-gestão para todos outros movimentos sociais. Temos força para
parar esse país, mas desocupar a reitoria porque consegui-se o
calendário e pela pressão da reitoria, mostrou que ainda não temos
noção da nossa força e consciência do nosso poder. Portanto,
continuamos no movimento, mas não acampados na APROFURG.
Àqueles
que mudaram-se para a APROFURG sem compreender a conjuntura política:
estamos disponíveis a continuar construindo um movimento estudantil
autônomo, livre e comprometido com a sociedade em geral - e nos
disponibilizamos pra esclarecer as questões político-partidárias
por detrás dos acontecimentos.
Àqueles
que são partidários
do movimento estudantil burocrata: nós não abandonamos nossa
ideologia de autonomia. A reunião com o Reitor foi a primeira
vitória e a desocupação foi a primeira derrota. Segue a luta!!
AVANTE!